quinta-feira, 23 de junho de 2011

Diário de um torturador de bruxas na Idade Média ( Parte I)



Tela de Bessonov Nicolay retrata uma sessão de interrogatório usando a técnica do Strappado.



Um dos aspectos mais violentos que engalfinhou sob o manto da injustiça a caça às bruxas, foi a crueldade indiscriminada destinada às mulheres suspeitas, desde os interrogatórios torturantes, aos exames públicos vexatórios e altamente dolorosos. Não raro, no decorrer do processo a acusada morria devido à severidade das técnicas. Para nós contemporâneos, surge uma pergunta estarrecedora: o que ocorria quando a vítima era declarada inocente? Que tipo de vida poderia retomar uma mulher depilada da cabeça aos pés, submetida às mais diversas sevícias (por vezes estuprada*) e tendo o corpo perfurado?
Os especialistas agulhadores (witch prickers) encarregados do exame das acusadas de bruxaria procuravam principalmente por áreas do corpo marcadas por Satanás, notadamente, as que apresentavam insensibilidade à dor e não sangravam. Para tanto, eles perfuravam centímetro a centímetro o corpo das infelizes usando instrumentos dotados de longas agulhas. Claro, as “não bruxas” se contorciam de dor e sangravam abundantemente, o que aumentava o suplício daquelas que seriam declaradas inocentes ao final do exame.
O texto a seguir é um excerto do diário do Agulhador Zebidiah Coventry. Na qualidade de sádico confesso e charlatão, ele ganhava dinheiro sob o pretexto de procurar “marcas do diabo” e “sinais de bruxaria” nos corpos nus das acusadas de bruxaria. Ele se gaba de ter levado mais de 200 mulheres à pena de morte em virtude das suas “comprovações”. A seguir, alguns fragmentos das suas visões.

28 de Outubro.
Hoje, recebi a incumbência do magistrado local para confirmar se uma jovem donzela é uma bruxa. Como acontece normalmente, saio vagando de lugarejo em lugarejo no encalço destas almas infelizes, para confirmar ou não as acusações que pesam sobre elas. O magistrado explicou-me que esta “bruxa” causou mal a alguns aldeões. Isto não me importa, já que o meu único intuito é encontrar os detalhes anatômicos de bruxaria e receber pelo meu trabalho. Logicamente, se não consigo encontrar as almejadas marcas, alego que o demônio removeu-as previamente no intuito de preservação do seu investimento diabólico. Afinal, 50 shillings seriam mais do que suficientes para que eu acusasse até a minha mãe.

Já agulhei mais de 230 acusadas de bruxaria. Nenhuma uma delas, julgo eu, era bruxa, mas apenas pobres e desafortunadas almas que despertaram ciúmes, inveja ou descontamento em membros da comunidade, familiares, parentes ou amigos. Desconfio que haverá um dia em que vou me deparar com uma bruxa verdadeira e este dia será escuro e triste. Neste dia, me recusarei a agulhar a bruxa e pedirei pela sua absolvição, e continuarei agulhando todas as outras, uma covardia que nunca será perdoada por Deus.

Suspeito que por trás destas acusações estejam a falta de meios de diversão nestes pequenos vilarejos. Penso que este povo necessitaria desopilar as suas preocupações, coisa que os londrinos fazem indo ao teatro Globo (teatro construído por Shakespeare). Ahh, como gostei na Noite de Reis (peça de Shakespeare), tenho que voltar lá depois de terminar este trabalho vergonhosamente prazeroso
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Fonte: blogpaedia

1 comentários:

  1. isso é muito terrível. imagine como deveria ser a vida naquela época.....cada geração tem a sua medida de malignidade.

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